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Ações em Minas Gerais anulam incidência do Mal de Chagas

Minas Gerais, há mais de duas décadas, não registra um caso novo de doença de Chagas. As ações da Secretaria de Estado de Saúde (SES) que possibilitaram esse cenário serão apresentadas durante a 25ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas. O evento reunirá parte da comunidade científica brasileira em Uberaba, entre os dias 20 e 24 de outubro.

Entre as ações do Estado estão cursos de capacitação para profissionais da saúde, distribuição de material informativo para a população, políticas de saneamento e triagem de doações de sangue. O trabalho desenvolvido pelo Programa de Controle de Doença de Chagas (PCDCH), que vem sendo empregado há algum tempo, já ganhou reconhecimento internacional. Em 2000, Minas recebeu um certificado da Organização Mundial de Saúde (OMS) por ter interrompido a transmissão da doença pelo principal vetor regional, o barbeiro Triatoma infestans.

“Não podemos falar que o Chagas está erradicado. Entretanto, os registros indicam que existe um controle satisfatório do mal em Minas Gerais”, explica Talita Chamone, Gerente de Vigilância Ambiental da SES. Estima-se que no Estado há 300 mil doentes, mas todos são casos antigos. Nenhuma destas pessoas foi infectada nos últimos 20 anos.

Segundo Talita, as capacitações realizadas junto aos profissionais de saúde são fundamentais para o controle da doença.
A Secretaria promoveu em abril, em parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed), o curso de exame parasitológico humano, oferecido para laboratoristas que trabalham no Estado.

Outro curso está programado para este mês. Entre os dias 27 e 31, profissionais das Gerências Regionais de Saúde (GRS) e das prefeituras mineiras participarão, em Belo Horizonte, do curso de identificação e exame parasitológico de triatomínios. O mesmo curso será promovido em novembro. Esse treinamento é direcionado para o pessoal que trabalha em campo, na captura do barbeiro. “Faremos uma espécie de reciclagem para mantermos a vigilância em cima do vetor”, diz Talita.

Hemominas

O protozoário Trypanosoma cruzi, causador do Mal de Chagas, também pode ser transmitido via transfusão de sangue. A triagem realizada pelos bancos de doação do Estado contribuiu para a queda do número de doentes.

Na Fundação Hemominas, a prevenção já começa na entrevista do candidato a doador. Pessoas que dizem apresentar febres freqüentes, inflamação nos olhos e vermelhidão da pele, traços característicos de um doente de Chagas, são impedidos de doar. “Este candidato é encaminhado a um serviço de referência, que confirmará ou não a moléstia e iniciará o tratamento”, diz Júnia Cioffi, Diretora Técnico-Científico da Fundação.

A coleta somente é realizada nos candidatos aparentemente saudáveis. A amostra passa por uma série de testes, como os que indicam, por exemplo, a presença do vírus HVA, que causa a Hepatite, do HIV e do protozoário do Mal de Chagas.

O resultado das políticas públicas para a prevenção pode ser percebido nessas amostras. Segundo a diretora, quando os testes para detectar a doença começaram a ser feitos, em 1985, a incidência do protozoário nas coletas era muito maior. “Hoje em dia, o número de amostras descartadas por causa do protozoário é bem pequena”.

A Fundação também realiza pesquisas. A Hemominas colhe dados para o projeto REDS – Estudo Multicêntrico Internacional para Doadores de Sangue, financiado pelo Instituto de Pesquisas em Sangue da Califórnia (EUA). O projeto investiga a evolução do mal de Chagas a partir dos candidatos à doação que tiveram resultado positivo no teste sorológico realizado em suas amostras.

O REDS pretende criar uma rede internacional de bancos de sangue, com laboratório central, cujo objetivo seria a segurança das transfusões, por meio de protocolos de pesquisa colaborativa. Além da Hemominas, integram o projeto a Fundação Hemope, do Governo de Pernambuco, a Pró-sangue, do Governo de São Paulo, e a Universidade da Califórnia.

A doença

Foi em Minas Gerais, há cem anos, que o mal de Chagas foi descoberto. Em junho de 1907, o sanitarista Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, trabalhando para o Instituto Oswaldo Cruz, foi enviado para a cidade de Lassance, no Norte do Estado, para ajudar a combater uma epidemia de malária. Colheu amostras de sangue de animais da região e descobriu a presença de um novo protozoário, que veio a ser chamado Trypanosoma cruzi. Os estudos prosseguiram no Rio de Janeiro. Em 1909, Chagas associou o protozoário a um a nova moléstia e descobriu sua forma de transmissão, através do barbeiro.

O mal de Chagas, que hoje está controlado pelo Estado, caracteriza-se por duas fases. Nos primeiros meses após a infecção, é comum o doente sofrer febres prolongadas, dores de cabeça e no corpo. Depois de um período, inicia-se um curso crônico. À medida que a doença progride, os sintomas se tornam mais graves, acarretando problemas cardíacos e intestinais.

A cura só é possível na fase inicial. A administração de fármacos, como alopurinol e benzonidazol, eliminam completamente o parasita ou diminuem a probabilidade de problemas futuros em mais de 80% dos casos. Já a fase crônica é incurável, pois danos em órgãos como o coração são irreversíveis. Mesmo se o paciente não apresentar os sintomas por anos, precisa seguir um tratamento específico para controlar a reprodução do parasita. Se não houver cuidados, a fase crônica pode ser fatal.
 
Fonte: Agência Minas


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