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Elon Musk no Brasil: por que visita do homem mais rico do mundo foi tão celebrada por seguidores de Bolsonaro

O encontro entre o bilionário americano Elon Musk e o presidente Jair Bolsonaro (PL) em um evento no Brasil nessa sexta-feira (20/05) agitou apoiadores do líder brasileiro, que foram às redes sociais comemorar o encontro e elogiar a atuação de ambos.

Foto: Reprodução Internet/Redes SociaisFoto: Reprodução Internet/Redes Sociais

A reunião, articulada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, aconteceu no interior de São Paulo durante o evento de lançamento de um projeto envolvendo a rede de satélites da SpaceX — empresa de tecnologia aeroespacial do bilionário.

Musk disse que o projeto vai trazer internet de alta velocidade e conectar escolas na zona rural e também "monitorar a Amazônia".

Militantes ligados à direita — não só no Brasil — também comemoram quando Musk anunciou a intenção de comprar o Twitter por US$ 44 bilhões (R$ 225 bilhões), negócio que ainda não se concretizou.

Além de Bolsonaro, a forma de agir do bilionário também tem agradado outros políticos de direita. Ele já foi elogiado pelo ex-presidente americano Donald Trump e se encontrou no ano passado com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Como foi que o bilionário — hoje considerado o homem mais rico do mundo — foi de alguém que se dizia "socialmente progressista" a personalidade admirada por conservadores e militantes de direita?

De um lado para o outro

Ao longo dos anos, o empresário dono da Tesla e fundador da SpaceX se declarou "moderado" e "socialmente progressista e conservador quanto à política fiscal", enquanto fazia doações para campanhas tanto de políticos democratas quanto de republicanos nos EUA.

Musk doou um total de US$ 1,2 milhões (cerca de R$ 5,8 milhões) para políticos e partidos desde 2002, de acordo com dados compilados pela Open Secrets, uma entidade que monitora o lobby nos Estados Unidos.

O dinheiro foi dividido quase igualmente entre políticos democratas e republicanos, mas cerca de US$ 85 mil foram para duas causas de esquerda locais do Estado onde então morava, a Califórnia.

Suas empresas também investiram um dinheiro considerável em lobby (que é legal e regulamentado nos EUA): a Tesla gastou US$ 5,5 milhões e a SpaceX, US$ 9,7 milhões.

Enquanto isso, Musk defendia publicamente — especialmente no Twitter, rede da qual é um usuário assíduo — causas ligadas ao campo progressista.

Uma delas é a luta contra as mudanças climáticas e a defesa dos esforços para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e desenvolver energias limpas. A causa está alinhada com a atuação da Tesla, cujos carros elétricos são tidos como mais sustentáveis do que os tradicionais movidos a gasolina ou diesel.

O empresário também já defendeu a descriminalização da maconha e a libertação das pessoas encarceradas pela guerra às drogas, pautas geralmente associadas à esquerda tanto nos EUA quanto no restante do mundo.

Em 2018, Musk chegou a se autodeclarar "socialista". Ele fez uma piada com socialismo no Twitter e depois afirmou: "a propósito, eu na verdade sou um socialista. Mas não do tipo que realoca recursos (...) fingindo fazer o bem enquanto na verdade causa o mal. O verdadeiro socialismo busca o bem comum."

Nos últimos anos, no entanto, o bilionário foi cada vez mais dando indícios de que suas inclinações políticas têm ido para a direita e sendo mais elogiado e visto como um aliado por pessoas nesse campo político.

Em abril deste ano, Musk disse que, embora tenha no passado votado em políticos democratas, ele pretendia votar em candidatos republicanos nas eleições legislativas de 2022.

"No passado eu votei nos democratas", disse ele, "porque eles eram (em geral) o partido da gentileza. Mas eles se tornaram o partido da discórdia e do ódio, então eu não posso mais apoiá-los e vou votar nos republicanos." Em outra postagem, ele também afirmou que "apoiou fortemente Obama para presidente".

Em 2020, Musk disse para seus seguidores "tomarem a pílula vermelha", uma expressão associada com a direita americana e muito utilizada por grupos que propagam teorias conspiratórias.

A fala é uma referência a uma cena do filme Matrix (1999), em que o protagonista deve escolher entre a cápsula azul, para viver preso em um mundo de ilusões, ou a vermelha, para receber a revelação da verdade por trás da realidade do dia a dia.

Embora as criadoras do filme, as irmãs Lilly e Lana Wachowski, sejam abertamente de esquerda, no atual contexto político americano "tomar a pílula vermelha" se tornou uma metáfora usada por grupos de direita radical.

No Brasil é comum que direitistas usem o adjetivo redpillado, um aportuguesamento do inglês red pill (pílula vermelha), para descrever a si mesmos como as únicas pessoas que realmente conhecem "a verdade por trás dos panos".

Aliado da direita

O deslocamento do bilionário pelo espectro político ficou em evidência especialmente durante duas situações nos últimos anos: a compra ainda não concretizada do Twitter e sua postura na pandemia.

A negociação para a aquisição do Twitter está envolta em polêmica pelo fato de Musk ter criticado fortemente a política de moderação da empresa e ter dito que mudanças seriam feitas após a sua aquisição.

Uma possível redução na moderação de conteúdo é bem vista pela direita, que considera a mudança benéfica para a "liberdade de expressão" — um dos panos de fundo da questão é a restrição imposta à disseminação de certos conteúdos rotulados como fake news, além do banimento do perfil do ex-presidente americano Donald Trump. Grupos de militância da direita acreditam que exista uma perseguição ao conteúdo de viés conservador.

Após o anúncio de que Musk fechou acordo para a compra do Twitter, em abril deste ano, influenciadores de direita e da direita radical ganharam repentinamente milhares de seguidores, indicando um fluxo de usuários deste campo político para a plataforma.

Ao mesmo tempo, houve uma onda de usuários de esquerda anunciando que deixariam a rede social, com contas de personalidades mais à esquerda perdendo milhares de usuários.

Mas Musk já vinha ganhando elogios da direita desde o início da pandemia, quando se juntou às vozes que criticavam as medidas colocadas em prática para impedir a disseminação do coronavírus.

Em 6 de março de 2020, ele escreveu que "o pânico por causa do coronavírus é estúpido" e semanas depois que "o temor causará mais perdas do que o próprio vírus" - a essa altura os EUA já tinham milhares de vítimas fatais da covid.

Também fez campanha contra a quarentena e opinou que "crianças são essencialmente imunes" à covid-19 e que usar cloroquina "é melhor do que nada" no tratamento da doença, ambas alegações incorretas, como demonstraram as pesquisas e a experiência ao longo da pandemia.

Imprevisível e desconcertante

Para o professor Michael Cornfield, diretor de pesquisa do Centro de Gestão Política da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, a orientação política de Musk é "ao mesmo tempo ideologicamente simples e desconcertantemente imprevisível".

"Ele é um libertário tecnológico", diz Cornfield em entrevista à BBC News Brasil, "que quer o mínimo de restrições governamentais possíveis: nada de regulações, impostos, parcerias público-privadas."

Ao mesmo tempo, diz Cornfield, o bilionário não vê problema em aceitar subsídios, renúncias fiscais e fazer uso de pesquisas financiadas com dinheiro público.

"E Musk tem um prazer malicioso em trollar (pregar peças) em concorrentes e autoridades. Portanto, as coisas que ele diz ou publica podem ser inconsistentes e imaturas, desde que chamem a atenção", afirma o pesquisador.

O analista político americano Ross Douthat escreve que a classificação de Musk com termos como "conservador" ou "libertário" não é precisa e "associa Musk com uma série de ideias para as quais ele não dá a mínima", escreve Douthat em um artigo publicado no jornal The New York Times.

Para ele, Musk é o que se poderia chamar de "dinamista". "É alguém cujos principais compromissos são a exploração e a descoberta", escreve Douthat, que defende que, no seu extremo, esta orientação pode levar alguém a preferir um governo autoritário que priorize a inovação do que um governo democrático que não o faça.

Já Cornfield defende que a imprevisibilidade de Musk pode torná-lo um aliado político pouco confiável mesmo para a direita. Então mesmo que Musk se alinhe politicamente com pessoas de quem pode conseguir algo, ele "não vai assumir nenhum compromisso mais duradouro com qualquer político, partido ou país".

"Em suma, ele vai usar Bolsonaro para obter tudo o que puder", avalia Cornfield sobre o encontro do bilionário com o presidente brasileiro.

Da Redação com BBC



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